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  • Foto do escritorEdu Peres

Prevenção Combinada e lições do Coronavírus



Embora estejamos em uma situação extrema e inédita de epidemia mundial, assistindo o avanço do COVID-19 (popularmente conhecido por Coronavírus), vale lembrar que o Brasil também lida com outras epidemias.



A que gera mais atenção é em relação ao vírus HIV. De acordo com dados disponibilizados pela UNAIDS e pelo Governo Federal, dentro da última década o Brasil aumentou os números de casos de HIV em cerca de 21%, indo de encontro ao visto em outros países. E dentro desses casos, cerca de 40% estão concentrado nas chamadas "populações-chave", ou seja, aquelas que apresentam maior risco de transmissão: comunidade LGBTQIA+, em especial homens que praticam sexo com homens (HSH) e população trans e travesti; população carcerária e profissionais do sexo; usuários de substâncias químicas injetáveis e outras drogas.


Uma das justificativas do aumento de casos está na falta de políticas públicas destinadas para essa população-chave, e na dificuldade de acesso dos mesmos ao serviço de saúde, com orientação e profissionais adequados para tal. Com a falha de campanhas e as constantes mudanças nos estudos de saúde sexual e da medicina preventiva, novas propostas surgiram para auxiliar o combate do avanço desta epidemia. Nesse contexto, surge o Protocolo da Terapia de Prevenção Combinada.



Focando numa abordagem ampla da saúde sexual, e não apenas na já desgastada orientação do uso regular da camisinha (que se mostrou ineficiente enquanto única medida de prevenção), a Prevenção Combinada agrega diversas medidas para controlar o avanço do HIV. Assim, trabalhando na prevenção e reforçando o tratamento das pessoas vivendo com HIV (PVHIV), a infecção é controlada em ambas extremidades de propagação. Por se tratar de medidas preventivas, as ações concentram-se em serviços de Atenção Primária, embora o Protocolo seja de conhecimento de todos os níveis de atendimento de saúde.


São medidas da Prevenção Combinada:


  • Testagem Regular para o HIV, Sífilis e Hepatites Virais (HBV, HCV): para HSH e população trans e travesti a orientação é de testagem regular a cada 6 meses, diferentemente da população cis-hetero que é orientada a realizar testagem a cada 12 meses. Pacientes em uso de PrEP devem realizar testagem a cada 3 meses;


  • Tratar todas as Pessoas vivendo com HIV/AIDS: Hoje sabemos que PVHIV que encontram-se com carga viral indetectável (ou seja, quantidade de vírus na corrente sanguínea tão ínfiima a ponto de não ser possível contar em exame bioquímico) são consideradas intransmissíveis. Ampliar o acesso ao tratamento do HIV/AIDS é um dos pilares para reduzir o número de casos;



  • Diagnosticar e tratar pessoas com ISTs: com a testagem regular e o acompanhamento adequado de pacientes na atenção primária, o diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) é realizado adequadamente. Ao identificar e tratar as infecções, é possível reduzir sua propagação.


  • Imunizar para Hepatites Virais e HPV: A ampla campanha de vacinação, quando realizada adequadamente, pode prevenir o desenvolvimento de doenças como as hepatites virais (Hepatites B, C e A) e o HPV. Os reforços vacinais das hepatites virais B e C fazem parte do calendário vacinal adulto, e para HSH, profissionais do sexo e pessoas trans, a orientação inclui o reforço da vacina contra Hepatite A;


  • Prevenir a transmissão vertical: refere-se ao acompanhamento adequado do pré-natal em gestantes, com a realização de exames preventivos dentro dos períodos corretos e tratamento das gestantes que apresentem HIV e outras ISTs na intenção de evitar transmissão da pessoa progenitora para o bebê;


  • Redução de danos: no acompanhamento de pacientes que possuem hábitos de exposição de risco, dentre os quais inclue-se o uso de drogas injetáveis e outras drogas, deve-se realizar orientação em relação a práticas mais seguras. Uma das orientações, por exemplo, é evitar compartilhar seringas com outros indivíduos ao usar alguma droga injetável;


  • Profilaxia Pós-Exposição (PEP): indica-se o uso da PEP até 72h após uma exposição sexual de risco (relação sexual com indivíduo desconhecido, sem uso de preservativos, com acidentes com o uso de preservativos, em relações sexuais não consentidas). Dentre as medicações que compõem a PEP estão os medicamentos antirretrovirais, que protegem contra a infecção com o vírus HIV;


  • Profilaxia Pré-Exposição (PrEP): O estigma do HIV entre pessoas LGBT+ segue forte e pode ser um grande fator de angústia e ansiedade na prática sexual. Focada para a população-chave, a PrEP é uma aquisição à Prevenção Combinada que trouxe grande avanço na qualidade da saúde sexual destes indivíduos. A PrEP é composta de medicação antirretroviral de uso diário, agindo de forma preventiva no contato com o vírus HIV, protegendo seu usuário da infecção. A medicação, disponível pelo SUS, é liberada mediante testagem trimestral e acompanhamento regular com profissionais de saúde. Além de foco na população-chave, considerando critérios de interseccionalidade, populações prioritárias também entram nos critérios de liberação do PrEP em território nacional. Como exemplo de sua eficácia, atribui-se à PrEP a redução de 75% no diagnóstico de novos casos de HIV no ano de 2019 no Reino Unido;


  • Uso de camisinha interna/externa e gel lubrificante: O uso de preservativo segue sendo uma das orientações, não mais a única, como método preventivo para ISTs. Além disso, o uso de lubrificante em relações ano-penetrativas previne riscos de fissuras e lesões locais, considerando que o ânus não possui lubrificação fisiológica.


Agora que estamos todos mais atentos quanto a nossa saúde e nosso meio, é hora de aproveitarmos para nos munir de conhecimento acerca de métodos preventivos e, dessa forma, melhorar nossa qualidade de vida e a de nosso entorno. Com a pandemia do Coronavírus saímos com alguns aprendizados. O primeiro é o quão é importante aderir à orientações preventivas de doenças infecto-contagiosas. O segundo é que doença não tem cara, e alguém que possa ser portador de algum microorganismo contagioso pode entrar em contato com outras pessoas e propagá-lo sem saber, e a recíproca também é verdadeira. Finalmente, a última e a maior lição é a de que a responsabilidade em relação à nossa saúde depende de cada um de nós.


Se você ainda têm dúvidas sobre a prevenção combinada, não deixe de perguntar no seu serviço de atenção primária (Unidade Básica de Saúde) sobre como o protocolo tem sido aplicado e como você pode aplicá-lo à sua vida.


Até mais!


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